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lunes, 28 de enero de 2013

Mediaçoes para pensar das formaçoes midiatizadas em modos de produçao baseados em tecnologias digitais: o caso Brasil

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Mediações para pensar das formações midiatizadas em modos de produção baseados em tecnologias digitais: o caso Brasil



Jairo Ferreira
Prof. Dr. PPGCC – UNISINOS


O estágio nos processos midiáticos atual é de ruptura com um longo período. Com as tecnologias digitais, há uma superação dos dispositivos que deixam o receptor fora do processo de produção. O receptor ingressa no processo como produtor, e os produtores clássicos da “sociedade de massa” – instituições midiáticas – assumem o papel de receptores midiáticos como condição de continuidade do lugar institucional que disputam na esfera da produção. A midiatização sofre um deslocamento histórico, em que a circulação inter-midiática passa a polarizar a produção social de sentido, correlata ao deslocamento de agentes e instituições não midiáticas ao lugar de produção ao lado das instituições midiáticas clássicas da “sociedade de massa”.
As produções dos discursos contemporâneas, nesse modo de produção, não pertencem mais isoladamente às instituições não midiáticas (modelo clássico, que fundou a visão de Aristóteles sobre a comunicação); nem, às midiáticas (modelo da sociedade de massa); mas incorporam, transformadas, os discursos dos agentes sociais em rede que, nesse processo, almejam a conquista da individualidade (mesmo que formal).
Nessa fase de ruptura de longo alcance, se coloca a possibilidade de construção e revelação de discursos potenciais (entendendo esses como denegados, reprimidos, mas não realizados). Há, é claro, dispositivos nesses modos de produção mais propícios a essas superações (por exemplo, o facebook e o blog mais do que o twitter ou o MSN). Mas há situações novas (exemplo: narrativas distribuídas em dispositivos móveis, em que o celular é utilizado para distribuição e, quem sabe, valorização/circulação de discursos).
Outra dimensão de ruptura é a emancipação do discurso de domínios específicos da técnica (literária, cinematográfica, documental, jornalística, etc.), com potencial retorno a todos os que, reunindo algumas competência e capitais, e seguindo os padrões técnicos articulados às tecnologias disponíveis, fazem a sua própria configuração dramática (a consagração dos amadores, conforme Flychy, 2010).
Mas a midiatização não é um processo homogêneo, com validade universal. Não é aplicável a todos os territórios, regiões e espaços sociais. Sua configuração está delimitada por seu pressuposto: é necessário que os indivíduos se insiram como, potencialmente, sujeitos de seus discursos, o que implica na requisição de sociedades civis que tenham respondido às premissas da mercantilização da cultura, da política e da economia. Ou seja, a inserção dos receptores na esfera da produção, como dimensão central da circulação autonomizante, requer que os indivíduos sejam “livres” – mesmo que isso seja conforme os pressupostos da liberdade mercantil (formal), para que, aí, situem-se de diversas formas, seja como sujeitos à ou como sujeitos de.
É nesse sentido que falamos de formações sociais singulares. Uma formação social será potencialmente mais midiatizada conforme os diferentes níveis de autonomia formal dos indivíduos, mesmo que essa formalidade seja aparente, na medida em que subordinados às diversas determinações sociais e biológicas. A autonomia formal dos indivíduos se manifesta em produção de discursos próprios, requisito sócio-antropológico à inscrição dos mesmos em dispositivos midiáticos. Mas autonomia dos indivíduos deve ser contextualizada por mediações antropológicas, discursivas e tecno-tecnológicas.

As mediações sócio-antropológicas

Recordando a proposição: o pré-requisito sócio-antropológico da midiatização é a mercantilização diversificada da sociedade (não só econômica, mas cultural, política, dos desejos, afetos, etc.). É nas brechas das diversas economias em circulação, que o individuo se coloca. Mas esse contexto não é homogêneo nas diversas formações midiatizadas. Umas das diferenças fundamentais se referem ao corte identificado por Lahire (2002) entre as práticas (esquemas de longo prazo identificáveis nas condutas) e as interações e usos (onde são visíveis os esquemas de curto prazo).
Por isso, a perspectiva de Lahire (2002) é interessante para pensar a força dos processos de interação e usos perante as práticas sociais incorporadas na formação social midiatizada no Brasil. A formação brasileira é próxima aos casos de “desvio e desajustamento” (Lahire, 2002) do mundo social. Destacamos algumas específicas:

1.    Contradição com o até então incorporado _ diversidade histórica e cultural da formação Brasil, sem hegemonia definida. Ou seja, não há projetos fortes de um Brasil purificado etnicamente.

2.    Migrações internas remetendo a diversidade

3.    Desvios entre disposições e situações – os outros em ambientes de outros, etc.

4.    Transformações históricas fortes – populismo, ditadura, democracia, novas configurações recentes, na economia e na política.

Nesta sociedade, singular, as perspectivas que analisam as práticas perdem valor perante aquelas que acentuam as mediações, as interações, ou, se quisermos, entre nós, a circulação. Essas situações acentuam a importância do presente sobre o passado, das interações relativamente aos contextos, dos usos em relação às práticas.  Configura-se aí uma base no real (ontológica), que fortalece ângulos interacionistas na análise dos processos de comunicação no Brasil. Mas isso significa que temos, nessas situações, o indivíduo em processos de liberdade de escolha?
Mesmo que o espaço de liberdade seja restrito, é nessa perspectiva que pensamos o individuo: atravessado por diversas determinações, não resta, ao individual, senão elaborar suas próprias sínteses, não predominantemente lógicas, mas principalmente em discursos próprios, em interlocução com seus pares no presente, em interações. O inverso disso é a violência, física ou simbólica, como método de resolução do conflito social decorrente da diversidade de práticas em jogo nas interações. 

A unificação do mercado linguístico versus sentidos e discursos em disputa

A unificação dessa diversidade tem uma base na formação econômica e política, caracterizada como “via prussiana”  por Carlos Nelson Coutinho. A grande mediação que acentuamos na unificação da diversidade de práticas é a unificação do mercado linguístico. No Brasil, essa unificação começa atravessa várias fases, do período colonial à república, com acento nos períodos de regimes autoritários. Esta mesma política foi adotada em relação à migração de africanos e, depois, de italianos, alemães, russos, poloneses, etc. no século XIX e XX. Mas é no século XIX e XX, especialmente junto às regiões de imigrações de japoneses, italianos e alemães, que o processo ganha novas marcas.
Nesse sentido, é interessante pensar os processos autoritários não apenas decorrem da problemática das relações entre economia e política - como frisam as análises marxistas. Está evidente que os regimes autoritários no Brasil são parte das tentativas de hegemonias culturais pela via prussiana (desde cima, do Estado).
A unificação linguística, entretanto, não assegura a unidade de sentido (semiótica) e discursiva (desde a construção de um imaginário compartilhado até as estratégias sociais unificadoras da ideia de nação). Os processos discursivos, pelo contrário, mesmo com base na mesma língua, manifesta a diversidade de práticas, nos processos de interações e usos. Nesse sentido, a ideia de polissemia, no caso de uma sociedade em permanente situação de crise de desajustamentos, deveria ser repensada.
Teoricamente, esse contexto está muito bem decifrado, por Bourdieu (1982). Nessa coletânea, afirma que as línguas derivam de codificações e imposições generalizadas que são requisitadas pela dominação de uma autoridade política. A existência dessa autoridade é uma necessidade para um mínimo de comunicação num espaço de produção econômica e dominação simbólica. A escola ocupa um lugar fundamental nesse processo de “socialização”, que é sempre incompleto, pois que, inscrita nos processos de comunicação, a língua normatizada é transformada conforme as estratégias de apropriação, interpretação e uso de produtores e receptores.
Nossa formulação é de que essa dispersão de sentidos e discursos nos processos de comunicação produzidos com base nos códigos linguísticos compartilhados sofre fraturas simbólicas diversas em sociedades em permanente crise de desajustamento como o Brasil. As diversidades são filo-genéticas, psico-antropológicas e sociais. É dessa diversidade que emerge, paradoxalmente, a força e o valor das interações nos processos comunicacionais no Brasil, pois que se trata de encontrar soluções no aqui e agora (ser “criativo”), suspendendo as práticas de referência para que os possíveis sejam viabilizados.

As instituições e indivíduos em tentativas[1]

Nesse contexto de diversidade de práticas, as interações e usos ganham peso maior relativo, ao mesmo tempo em que expõe a ausência de referências que conservem a ideia de sociedade. Os desajustes são permanentes (culturais, econômicos, políticos e societários).

Os esforços de conservação (estabelecendo referências em termos de práticas) requisitam um trabalho redobrado das instituições coletivas (a generalização das relações públicas de que fala Bernard Miège), ao mesmo em que a diversidade de práticas favorece a individualização das relações sociais. Emerge, nesse quadro, características de uma fragmentação pós-moderna sem ter passado pela realização dos desafios da modernidade.

Num espaço social marcado pelo valor das interações perante as práticas incorporadas, a força dos dispositivos aumenta em termos de regulações. Não se trata de regulações de Estado (centralizadas), nem das regulações da cultura (baseada nas práticas de conhecimento, reconhecimento, vinculo e conflito), mas da dispersão de formatos de regulações mediadas por comunicação midiatizada, conforme os públicos de produção-recepção-circulação.

Bibliografia

BOURDIEU, Pierre. Ce que parler veut dire. L’économie des échanges linguistiques. Fayard, 1982.
BRAGA, José Luiz. Nem rara, nem ausente – tentativa. In: Matrizes, v. 4, n. 1 (2010). disponível em http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/view/179.
FERREIRA, Jairo ; FOLQUENING, V. . O individuo e o ator nas brechas da midiatização: contrabandos em espaços conjuminados. Diálogos de la Comunicación (En línea), v. 1, p. 1-21, 2012.
LAHIRE, Bernard. O homem plural. Vozes, 2003.


[1] Utilizo, nesse intertitulo, um termo que é central na reflexão de José Luiz Braga (2010)

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